quinta-feira, agosto 30, 2012

A Desaceleração Rudimentar da Economia Brasileira desde 2011 - Franklin Serrano

Publicado em marx21.com



    A economia brasileira experimentou na segunda metade dos anos 2000 um período de  crescimento mais rápido, inflação controlada e uma melhora na distribuição de renda e redução da pobreza devido a uma grande mudança nas condições externas aliada a uma mudança pequena, mas muito importante, na orientação da política macroeconômica interna. A média de crescimento do PIB no período 2004-2010 foi de 4,5%, pouco mais do dobro do observado no período 1995-2003. Porém, a partir de 2011, vem ocorrendo uma desaceleração do crescimento econômico, em que a taxa de 7,5% em 2010 foi progressivamente se reduzindo a cada trimestre, atingido 2,7% para o ano de 2011 como um todo. Ao que tudo indica o crescimento do PIB deve ser menor ainda em 2012. Ao contrário do que ocorreu no período de 2004-2010, a recente redução drástica da taxa de crescimento da economia brasileira se deveu relativamente mais a mudanças na condução da política macroeconômica interna do que às mudanças na situação externa. A análise é de Franklin Serrano e Ricardo Summa.

Leia : A Desaceleração Rudimentar da Economia Brasileira desde 2011 com a análise completa dos professores Serrano e Summa sobre o comportamento da economia brasileira no governo Dilma.



terça-feira, agosto 28, 2012

A natureza da estagnação brasileira - José Luis Oreiro

em Valor Econômico 30/07/2012

"Estimular o consumo por intermédio de reduções semi-permanentes de impostos e estímulos ao aumento do endividamento das famílias são contrários ao que se deve fazer para restabelecer o dinamismo da economia brasileira", avalia José Luis Oreiro , professor do departamento de economia da Universidade de Brasília, em artigo publicado no jornal Valor, 30-07-2012.
Segundo ele, "a retomada do crescimento em bases sustentáveis exige um aumento combinado da capacidade produtiva e da taxa de crescimento da produtividade do trabalho".
Eis o artigo.

Os dados divulgados recentemente pelo Banco Central confirmam a continuidade do estado de semi-estagnação da economia brasileira que eu havia mencionado num artigo publicado em janeiro deste ano no Valor ("O retorno à semi-estagnação"). Naquela ocasião eu havia argumentado que essa semi-estagnação era o resultado de um processo de natureza estrutural que vem se desenvolvendo na economia brasileira nos últimos anos, ou seja, a desindustrialização.

Dessa forma, o retorno a taxas de crescimento mais robustas exigem a adoção de políticas que induzam a mudança estrutural da economia brasileira com vistas ao aumento da participação da indústria de transformação no PIB. As políticas keynesianas tradicionais de estímulo a demanda agregada não são a forma mais adequada de se induzir esse processo, pois o problema fundamental da economia brasileira atualmente não é "encher de ar quente um balão semi vazio", mas sim mudar a natureza do material usado na confecção do mesmo. Em outras palavras, o problema fundamental de nossa economia é mudar a composição da demanda agregada em direção a bens tradeables, em vez de aumentar ainda mais o nível de demanda. A validade dessa afirmação fica comprovada pela simples inspeção da figura ao lado.

Problematizações Acerca do Conceito de um "novo" Estado desenvolvimentista


Artigo de Ronaldo Fianni

RESUMO:

Este trabalho visa discutir, de forma teórica e preliminar, aquelas que seriam as principais características e dificuldades do conceito de Estado desenvolvimentista (ED). Para isso serão discutidas duas questões fundamentais para a adequada compreensão do conceito: i) os objetivos que caracterizam um ED - em outras palavras, que tipo de desenvolvimento busca um ED?; e ii) quais meios institucionais (atuação indireta sobre o ambiente institucional, ou intervenção direta sobre arranjos institucionais específicos) são usualmente empregados por um ED? Adicionalmente, faz-se breve revisão de algumas questões correlatas ao tema. Palavras-chave: Estado desenvolvimentista, Desenvolvimento, Instituições.

Link:  http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1749.pdf

quarta-feira, agosto 08, 2012

Ipea avaliou a atuação do governo na área social


O boletim, que foi lançado nesta quarta, análisou áreas como a previdência, saúde e trabalho

Nesta quarta-feira, dia 8, foi lançada a vigésima edição do boletim Políticas Sociais: acompanhamento e análise, publicação do Ipea que registra e analisa a evolução da atuação do governo federal sobre as políticas sociais em seus vários aspectos e setores. O periódico conta com nove capítulos, que cobrem as principais áreas de política social: previdência social, assistência social, saúde, educação, cultura, trabalho e renda, desenvolvimento rural, igualdade racial e igualdade de gênero.
A apresentação foi feita pelo diretor de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea, Jorge Abrahão de Castro, e pelo editor do boletim, Roberto Gonzalez, no auditório principal do Edifício BNDES/Ipea (SBS, Quadra 1, Bloco J). A 20ª edição completa o acompanhamento de políticas e programas sociais federais no último ano do governo Lula e já destaca as principais iniciativas tomadas em 2011 pelo governo Dilma Rousseff.
A nova edição traz ainda um artigo especial, que faz um balanço das mudanças promovidas no novo Plano Plurianual (PPA), que vigora desde 2011 até 2015. O texto traça a evolução do plano e discute sua contribuição para organizar o planejamento e a gestão pública.

quinta-feira, agosto 02, 2012

Horizonte sombrio - Paulo Passarinho

Neste  artigo Paulo Passarinho faz uma análise importante do imediatismo que predomina na equipe econômica do governo. Em não possuir uma estratégia de longo prazo para nossa economia, as propostas elaboradas pelo governo se adequam não ás necessidades da população, mas de acordo com a força do lobby dos empresários. Confiram. (Aquiles Melo)

Paulo Passarinho
Em 25 de maio de 2012
Do site:  Correio da Cidadania

Há pouco tempo, escrevi um artigo (No reino do curto-prazo) destacando a dependência do governo, em seu processo de tomada de decisões, de situações conjunturais de curto-prazo.
Esse é um dos elementos que evidenciam a total subordinação do país a diferentes circunstâncias econômicas, sem que tenhamos um norte estratégico definido. Vivemos, assim, a ausência de um projeto de nação que estabeleça metas e objetivos nacionais a serem atingidos no curto, médio e longo prazos, através de meios e instrumentos factíveis e racionais. Algo que no passado era denominado de planejamento.
Vivemos, na verdade, a realidade de um país que navega nas ondas circunstanciais das pressões de um mercado globalizado e cada vez mais concentrado e altamente competitivo. O Brasil atual (com as suas estruturas de poder) passa a ser, desse modo, um administrador de pressões e interesses que surgem dos pólos mais dinâmicos do atual jogo global, notadamente corporações transnacionais e financeiras.
Frente, por exemplo, à fase da crise do capital que se abre a partir de 2007/2008, e que no momento aponta para o agravamento da situação de crise na Europa, com a possibilidade de a Grécia deixar a área do euro, o governo procura se agarrar a qualquer expediente que lhe garanta que a economia brasileira possa ter, agora em 2012, uma taxa de crescimento um pouco maior que a obtida em 2011.
Para tanto, Guido Mantega, o ministro da Fazenda, apresentou nesta semana um novo pacote de incentivo ao consumo, especialmente voltado para a indústria automotiva. Reduções na cobrança do IPI, diminuição do IOF em operações de crédito às pessoas físicas, liberação de recursos de R$ 18 bilhões dos depósitos compulsórios do Banco Central para “irrigar” o crédito e taxas de juros mais reduzidas no BNDES foram as principais medidas anunciadas.
Um dia após esse anúncio, o próprio ministro, em depoimento no Senado, admitiu que houve pressões das montadoras na elaboração do pacote. Com os seus pátios cheios de automóveis, as fábricas ameaçavam com demissões ou férias coletivas os seus empregados.
O governo tenta um pouco mais do mesmo. No início da crise, em 2008, o governo apostou na demanda interna, no consumo das famílias, para garantir taxas positivas de crescimento. Perdeu em 2009, com o resultado negativo do PIB, mas ganhou folgadamente em 2010, um ano eleitoral e que garantiu a eleição de Dilma à presidência.
Contudo, o quadro atual é diferenciado. Com a expansão das vendas a crédito no país, com um custo financeiro muito elevado, por conta das altas taxas de juros, há um endividamento acumulado bastante elevado e o nível de inadimplência das famílias começa a preocupar. A renda real dos trabalhadores somente se eleva nos estratos mais pobres da população, assim como o próprio emprego. Mesmo em um contexto de redução das taxas de juros, nota-se que os pátios das montadoras revelam que existe uma saturação da demanda por automóveis – assim como de outros bens de consumo duráveis – que dificilmente será de fato revertida com as medidas anunciadas.
A alternativa de se buscar através do incremento dos investimentos uma saída para a reversão do baixo crescimento econômico também parece problemática. No plano privado, as incertezas provocadas pela própria crise não nos possibilitam imaginar uma mudança no patamar de investimentos que nos últimos anos temos observado, mesmo com o endividamento contraído pelo Tesouro para incrementar a atuação do BNDES junto aos seus clientes privados. Pelo lado da iniciativa direta do Estado, a ditadura fiscal do superávit primário nos impede de qualquer esperança de uma mudança na atual taxa de investimento do setor público.
Complicando um pouco mais o quadro em que se debate o governo, nas últimas semanas a saída de dólares do país se intensificou. A acentuada queda nas cotações do Ibovespa revela essa pressão de venda de ações, especialmente por parte de investidores estrangeiros, mas também por parte de especuladores brasileiros.
A curiosidade dessa situação – que fez com que nessa semana o dólar chegasse a ser negociado a R$2,10, obrigando o Banco Central a vender parte de suas reservas internacionais para fazer a cotação da moeda americana recuar – é que há muito pouco tempo a preocupação do governo era com a excessiva valorização do Real. Tal qual uma biruta de aeroporto, parece que a sensibilidade das autoridades econômicas depende dos ventos de cada momento.
E essa “fuga do risco” por parte dos especuladores é certamente a maior preocupação do governo. Nos últimos anos, nossa vulnerabilidade externa aumentou enormemente. Além de termos deixado para trás os anos em que o saldo comercial do país cobriu as despesas com o pagamento da nossa conta de serviços, entre os anos de 2003 e 2007, desde 2008 temos contraído crescentes déficits em conta corrente, cobertos pela entrada de capitais para aplicações financeiras ou para a aquisição de ativos reais.
O professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, em recente trabalho (Governo Lula e o nacional-desenvolvimentismo às avessas, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, de fevereiro de 2012), aponta que o passivo externo total do Brasil (o conjunto dos compromissos do país com os estrangeiros) evoluiu de US$ 343 bilhões, no final de 2002, para US$ 1,294 trilhão.
Descontando-se desse passivo total os investimentos diretos dos estrangeiros (investimentos em ativos reais: fábricas, terras, supermercados e demais negócios produtivos), temos os dados do chamado passivo externo financeiro (aplicações em bolsa e títulos financeiros, incluindo títulos da dívida pública). Em 2002, o total desse passivo era de US$ 260 bilhões e, em 2010, alcançou a cifra de US$ 916 bilhões.
Esses são passivos que rapidamente, em um momento de crise, podem conformar uma forte pressão por liquidez, com o objetivo de serem retirados do país, produzindo fortes pressões sobre o mercado de câmbio. Reinaldo Gonçalves destaca que, mesmo ao se levar em conta as elevadas reservas internacionais do país – sempre lembradas como um poderoso instrumento à disposição do governo –, a situação não é confortável: em 2002, esse denominado passivo externo financeiro líquido era de US$ 222 bilhões; em 2010, ao final do governo Lula, já havia atingido US$ 628 bilhões.
 Além disso, sob o ponto de vista estrutural, não há nenhum indício de uma leve reversão que seja do quadro de desequilíbrio corrente das contas externas. Ao contrário, e os resultados de 2011 e deste 2012 demonstram claramente, há um crescimento cada vez mais robusto do déficit da conta de serviços, puxado pelas remessas de lucros, dividendos e juros da dívida externa, ao mesmo tempo em que a tendência é de uma redução do saldo comercial do país.

Paulo Passarinho é economista e apresentador do programa de rádio Faixa Livre.


quarta-feira, agosto 01, 2012

Brazil's Banks Need to Serve Economy, Navigate Global Risks - Relatório do FMI sobre Estabilidade Financeira do Brasil


O FMI avisa: “Rapid credit expansion in recent years has supported domestic economic growth and broader financial inclusion, but could also create vulnerabilities.” O processo de financeirização da economia brasileira ocorre de forma muito rápida e já fornece sinais de esgotamento de sua capacidade de aquecer a economia. (Aquiles Melo)


Brazil, a member of the Group of Twenty advanced and emerging economies and the world’s fifth biggest economy, has a vibrant financial sector but will need to keep an eye on risks from abroad as well as at home.

Brazil’s financial system has grown in size, diversification, and sophistication, according to the International Monetary Fund’s latest assessment of the country’s financial system.
Over the past decade, financial sector assets more than doubled owing to the stable economy, the expansion of the securities and derivatives markets, and money pouring in from institutional investors from home and abroad.
Thanks to deft policies and built-in cushions, Brazil’s financial system weathered the global crisis that began in 2008 remarkably well. Now, policymakers need to navigate the turbulent global economy and monitor for signs of home-grown financial trouble, the IMF said.

segunda-feira, julho 30, 2012

Presidente do Ipea analisa a 'nova classe média'


Marcio Porchmann lança "Nova Classe Média?"
Por Caio Zinet
Caros Amigos

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Durante a última década, o Brasil vivenciou um intenso fenômeno político e econômico, a ascensão de milhões de pessoas à chamada “nova Classe C”. Para analisar esse novo elemento social brasileiro, o presidente do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Márcio Porchmann, escreveu o livro "Nova Classe Média?" pela editora Boitempo. O livro tem lançamento e debate programados para o dia 29 desse mês de maio, às 19h30, no prédio da Economia da PUC, em São Paulo.

Para o pesquisador há uma disputa sobre o que represente essa nova Classe, principalmente em torno da discussão se ela pertence a um setor da classe média, ou se é um setor da classe trabalhadora. Para ele, essa discussão tem intensas repercussões sobre a atuação e o papel do Estado .
“Se a identidade que nos estamos tendo é a de classe média a pressão para que o Estado subsidie o setor privado tenderá a ser maior. Se nós entendemos que se trata de novos segmentos no interior da classe trabalhadora a pressão é de outra natureza”, afirmou.
Ele traçou ainda um perfil dessas novas pessoas que ascenderam da base da pirâmide social, que pare ele escaparam da influência das instituições políticas democráticas. Para ele isso tem repercussões importantes na política brasileira.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.

domingo, julho 29, 2012

Por que tantos filósofos comunistas?


Santiago Zabala é pesquisador e professor de filosofia da Institució Catalana de Recerca i Estudis Avançats, ICREA[1], da Universidade de Barcelona. É autor, dentre outros trabalhos, de The Hermeneutic Nature of Analytic Philosophy (2008), The Remains of Being (2009), e, mais recentemente, com G. Vattimo, Hermeneutic Communism(2011), todos publicados pela Columbia University Press.


Barcelona – Ler Marx e escrever sobre Marx não faz de ninguém comunista, mas a evidência de que tantos importantes filósofos estão reavaliando as ideias de Marx com certeza significa alguma coisa. 

A crise financeira de 2008 despertou um renovado interesse nos escritos de Karl Marx, afirma Zabala [EPA]
Depois da crise econômica global que começou no outono de 2008, voltaram a aparecer nas livrarias novas edições de textos de Marx, além de introduções, biografias e novas interpretações do mestre alemão.

terça-feira, julho 24, 2012

Do Crescimento com Lula à Estagnação com Dilma


do blog Marx21.com


O ciclo econômico positivo originado durante o governo Lula agora se desfaz com o governo Dilma. Do boom das exportações de commodities, dos aumentos dos salário mínimo, da redução da pobreza, do aumento do consumo das famílias e do aumento dos gastos do governo, vivemos agora a reversão completa com políticas de fortes cortes de gastos públicos e falta de reajustes a servidores federais. Conjugada à crise mundial, as políticas econômicas adotadas por Dilma vão na contramão do crescimento brasileiro. Em lugar de estimular a demanda, o governo atual preferiu optar erroneamente pela austeridade nos gastos públicos. Como medidas emergenciais, Dilma agora adota políticas para atuar no lado do barateamento do crédito e da desoneração da folha de salários, sem maiores preocupações com a demanda agregada. O declínio constante do PIB brasileiro não esconde as opções de Dilma. A análise é de Ricardo Summa.
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Acompanhe abaixo a gravação da recente apresentação de Ricardo Summa, professor do departamento de economia da UFRJ, sobre a atual política econômica do governo Dilma




(*) Vídeos publicados originalmente no blog da Revista Circus.
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Aproveito para complementar a discussão com um interessante comentário do professorFranklin Serrano feito através do Facebook:
“Eu acho (e o Summa também) que desonerar o salário em nada adianta para combater o subemprego e a informalidade. Um problema teórico de que para a desoneração funcionasse no caso mais geral teríamos que acreditar que existe forte efeito substituição entre um suposto fator de produção capital e o trabalho. O problema é que a desoneração geral afetaria também os salários dos setores que produzem os bens de capital e aí em geral nada pode ser dito sobre a mudança do coeficiente de trabalho quando o custo salarial cai. O outro problema mais simples é que mesmo que desoneração torne mais lucrativa técnicas mais intensivas em mão de obra (riquixás substituiriam taxis !) tem o problema de que isso apenas aumenta a margem de lucro das empresas e não suas vendas. Desonerar em geral nada aumenta a demanda efetiva da economia. Apenas concentra renda. Desonerações em setores específicos com problema de competitividade podiam dar um alívio para setores que estão na margem da extinção pela concorrência chinesa. Mais aí como a produtividade deles aumenta o tempo todo e a nossa não por falta de política industrial e tecnológica, ia ter que ter uma desoneração nova todo ano e um dia ia ter que acabar nossa previdência. Além disso, note que nos últimos anos o subemprego caiu muito e a informalidade também e o instrumento para isso parece ter sido o AUMENTO do salário minimo e dos custos salariais. Aconteceu o exato contrário do que tinha que acontecer para a tese da desoneração geral da folha de salários fazer sentido. [...] Na prática, se o problema é emprego, em geral é melhor o governo gastar direto ou fazer transferências para os mais pobres que tem maior propensão a consumir. Se o problema é competitividade industrial, é melhor fazer política industrial, de preferência através de compras públicas com exigência de upgrade tecnológico. Desonerar empresas é fácil e os empresários adoram, mas concentra renda e não adianta muito pelos motivos acima.”

Mangabeira Unger no Roda Viva

Interessante entrevista com Mangabeira Unger. Importante notar é que, enquanto a direita e até mesmo o que ele chama de esquerda propõe soluções e alternativas para nosso país, a "verdadeira esquerda" se cala no aguardo se os próximos passos do governo terão resultados positivos (PT), ou então recaem no denuncismo e na crítica estéril que não propõem qualquer alternativa, senão sonhos. (PSOL)


Roda Viva recebeu, no dia 16 de julho de 2012, o filósofo, jurista e ex-ministro de Assuntos Estratégicos do governo Lula Roberto Mangabeira Unger, que falou sobre política – nacional e internacional. Roberto Mangabeira Unger foi professor do presidente americano Barack Obama, na Universidade de Harvard (EUA), onde é professor titular. Recentemente, o jurista divulgou um vídeo defendendo a derrota de seu ex-aluno nas próximas eleições presidenciais do país. Sua posição contrária ao governo Lula também foi assunto em pauta. Unger afirmou, em artigo no jornal Folha de S. Paulo (2005), que esse era o governo mais corrupto da história. Depois disso, ele foi nomeado para o cargo de ministro. No Roda Viva, ele afirmou: “Eu reconheço que temos um problema estrutural de corrupção no Brasil, mas esse problema tem soluções e passam pelo financiamento de campanhas e pela reforma de processo orçamentário”.

domingo, julho 22, 2012

O Brasil (ainda) precisa planejar





Carlos Lessa, No IPEA

"A crise mundial iniciada em 2008 promete vicissitudes que recolocarão o debate sobre futuro brasileiro. Voltarão ideia de planejar a reativação de um projeto nacional brasileiro"

A expressão “plano” esteve, assepticamente, livre de qualquer viés ideológico, até que, após a Revolução Comunista Soviética, foi utilizada como horizonte e guia político-econômico do Estado nacional. Ali teve início a formulação do I Plano Quinquenal Soviético e foi instalada uma equipe encarregada de planificar a trajetória futura da União Soviética. A partir desse momento, as expressões “plano” e “planificação” passaram a ser identificadas como o modo pelo qual o Estado socialista poderia dispensar as regras do jogo capitalista e atuar de forma organizada para a evolução da nova sociedade.

Em sentido amplo, propor fazer um plano nacional e instalar um processo de planificação marcavam uma posição de esquerda, e o debate ideológico passou a repudiar essas expressões como sínteses de uma prática hostil ao capitalismo, que buscavam  a  transformação  e  o  desenvolvimento econômico de uma nova ordem social e política.

As imperfeições microeconômicas da economia de mercado já haviam sido mapeadas pela análise neoclássica. As visões teóricas de um monopólio bilateral entre as relações do capital patronal e o trabalho assalariado já insinuavam ajustes institucionais em direção ao que se denominou economia social de mercado. O receituário político-econômico da economia política clássica liberal inglesa e as derivações da teoria do equilíbrio  geral neoclássico haviam feito evoluir da ideia de Estado gendarme, guardião de contratos e do livre jogo de mercado e decantado como paradigma liberal à figura do Estado mínimo, com os mais reduzidos instrumentos de atuação discriminatória. Houve um presidente chileno, Barros Lugo, que afirmou ser “muito fácil” seu cargo, pois os problemas ou eram auto-solucionáveis, ou não tinham solução e ele não tinha com o que se preocupar - e passou à história como nome de saboroso sanduíche local.

quarta-feira, julho 18, 2012

Os cabeças-de-planilha explicando o crescimento



Autor: 
 
Um dos grandes desafios dos economistas é definir com correção relações de causalidade. Os de menor fôlego correlacionam séries estatísticas mas, na hora de definir a causalidade, acabam se enrolando na falta de um raciocínio mais sofisticado. Tome-se o caso dos economistas Pedro Ferreira e Renato Fragelli, da FGV-Rio, no Valor de hoje.
Sustentam eles que, no período da crise - 2008-2010 - cresceu a Produtividade Total dos Fatores (PTF). Até 2005 ela estava relativamente estagnada. Cresce no período 2008-2010 (junto com o crescimento da economia); cai de 2010 para cá (junto com a queda da economia).
Por que cresceu? Porque, segundo eles, no período imediatamente anterior (de estagnação da economia), especialmente no governo FHC foram feitas reformas modernizantes, cujos frutos foram colhidos no período seguinte.
De 2010 para cá caiu a economia e a PTF. Por que caíram? Porque no período imediatamente anterior - a do crescimento 2008-2010 - o governo Lula tomou um conjunto de medidas que diminuiu a eficiência da economia. E relacionam medidas que, a rigor, em nada afetaram a produtividade da economia, como as transferências do Tesouro para o BNDES. Se criou mais disponibilidade de recursos para financiamento, onde se perdeu eficiência?
O que esse pensamento cabeça-de-planilha fez foi simplesmente inverter a relação de causalidade.
O crescimento da economia permite um melhor aproveitamento da PTF, porque passa a utilizar melhor a capacidade instalada.
Exemplo simples:
1. A empresa A tem 100 trabalhadores e fabrica 1000 produtos por mês. A produtividade de cada trabalhador é de 10 produtos por mês.
2. Aumenta a demanda, a empresa passa a produzir 1.500 produtos por mês (50% a mais) mas aumenta sua filha para 110 trabalhadores (10% a mais). A produtividade por trabalhador aumentou para 13,64 - ou 36,4% a mais.
A rigor nada mudou, nem legislação trabalhista, nem tributária, nem máquinas novas, nem nada. Apenas a demanda aumentou mais do que o aumento da força de trabalho, ocupando melhor a capacidade instalada. Aplicado a todos os demais fatores, o exemplo mostra que o aumento da atividade econômica levou ao aumento da PTF, e não o inverso..
Os cabeças-de-planilha da FGV, no entanto, atribuem a melhoria da PTF de 2008-2010 às supostas reformas introduzidas por FHC nos seus oito anos.
Nem FHC nem Lula melhoraram em nada o ambiente econômico. Em ambos os períodos, a carga fiscal aumentou brutalmente (muito mais no período FHC), o custo do dinheiro assumiu níveis estratosféricos, o investimento público fo totalmente desviado para pagamento do serviço da dívida, não se mexeu na legislação trabalhista, não se desburocratizou a economia, não se agilizou o Judiciário, não se conferiu competitividade ao câmbio. Enfim, não houve nenhum avanço estrutural que levasse à melhoria da PTF e impulsionasse o crescimento.
A revolução ocorreu apenas no campo da demanda, com as políticas sociais de Lula. E, no período 2008-2010, o crescimento se deveu ao ativismo fiscal e monetário, ausentes do país desde o plano Real. Nas crises anteriores, a reação de Pedro Malan era mais choque fiscal, atuando pró-ciclicamente.
A FGV já teve ortodoxos mais capacitados a defender sua tese.
Até hoje não se refez da saída de Dionisio Dias Carneiro, Paulo Guedes, Paulo Rabello de Castro, Chico Lopes entre outros.

Original em: 

segunda-feira, julho 16, 2012

Una Introducción al modelo de la Economía Participativa o Parecon


Minhas (Aquiles) observações: Um dos grandes problemas que a esquerda enfrenta é o que chamo de crítica estéril. Esta crítica, apesar de sua profundidade analítica e de conseguir apontar os equívocos da condução econômica hodierna, acaba por se perder na hora de propor algo para além de onde estamos. Artigos que expressam idéias como essas que encontramos logo abaixo, ainda que incipientes, faz reacender a esperança de que a esquerda saia da cômoda posição da crítica estéril e passe para a crítica combativa, onde a profundidade analítica não só desmancha o arcabouço teórico da economia burguesa, como sua intervenção na realidade possibilita a superação dessa ordem. Camaradas que conhecerem outras propostas como estas, favor  deixar link nos comentários.




escrito por Jon Las Heras   

Este artículo presenta brevemente el modelo político y económico que Michael Albert y Robin Hahnel han llamado Parecon(Participatory Economics o Economía Participativa). El modelo ha suscitado gran interés dentro del movimiento libertario y en todos aquellos teóricos y activistas que están generando y proponiendo alternativas al sistema socioeconómico dominante.

 La Economía Participativa, que nació a principios de los 90, pretende promover que todas las decisiones económicas a la hora de producir y consumir sean tomadas de una forma democrática y participativa. Como democrática, los autores no entienden la actual estructura de democracia representativa, sino aquella en la que las personas participan directa y activamente en todas las cuestiones que afecten, en mayor o menor grado, sus vidas. Pero voy a dejar que sea M. Albert quien defina su modelo:

El Parecon rechaza la propiedad privada de los medios de producción, la organización corporativa del trabajo y los mercados y/o la planificación centralizada. En vez de ser los capitalistas o los gerentes los que gobiernen a los trabajadores, Parecon es una economía donde los trabajadores y los consumidores cooperan para determinar sus preferencias económicas y se benefician de éstas, de forma que promueven la equidad, la solidaridad, la diversidad y la autogestión. El Parecon no entiende de clases.”

El análisis que M. Albert y R. Hahnel hacen a la hora de comparar diferentes estructuras político-socioeconómicas toma como punto de partida cinco “valores económicos”: equidad, diversidad, solidaridad, autogestión y eficiencia. En la primera parte de su libro explican estos conceptos ampliamente, pero aquí no voy a desarrollarlos debido a la brevedad del artículo. Los modelos que son objeto de estudio son la economía de mercado, la planificación centralizada y el Parecon, y según cómo se comporten y respondan ante estos criterios, afirman que tendrán la suficiente capacidad objetiva como para establecer preferencias entre las tres opciones. Ahora voy a ahondar en el análisis que hacen de los diferentes modelos.

‘FHC plagiou intelectuais banidos pela ditadura’


EM: Carta Capital


Nildo Ouriques


Censurado. Ouriques considerou FHC um liberal a serviço dos Estados Unidos. Foto: Débora Klempous


Foram necessários 43 anos para que Subdesenvolvimento e Revolução, do mineiro Ruy Mauro Marini, desse o ar da graça no Brasil. Publicada pela primeira vez no México em 1969, a obra clássica do marxismo brasileiro ganhou edições em diversos países, inclusive naqueles da América Latina a viver sob o jugo de ditaduras. O que nos leva a perguntar: por que tanto tempo para se reconhecer um grande intelectual brasileiro? Marini (1932-1998), presidente da Política Operária (Polop) e autor de Dialética e Dependência, passou 20 anos no exílio a partir do golpe de 1964. Professor no México e no Chile, onde dirigiu o Movimento de Izquierda Revolucionária (MIR), ele não era, é óbvio, bem-vindo pela ditadura brasileira.
Sua obra continuou, porém, a ser censurada durante a chamada “transição democrática”. Nas palavras de Nildo Ouriques, autor da apresentação de Subdesenvolvimento e Revolução(Editora Insular, 2012, 270 págs.), professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina e ex-presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC, a hegemonia liberal “monitorada” por Washington queria uma transição isenta de teorias radicais como aquelas de subdesenvolvimento e dependência de Marini.
Segundo Ouriques, nessa empreitada para marginalizar radicais, Fernando Henrique Cardoso e José Serra serviram à hegemonia liberal e, entre outros feitos, adulteraram um famoso texto de Marini. Na esteira, FHC pegou carona para “formular” a teoria da dependência que o tornou famoso. Subdesenvolvimento e Revolução, iniciativa do Iela-UFSC, inaugura a coleção de livros críticos que serão publicados pela primeira vez no Brasil pela Pátria Grande: Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano.
CartaCapital: Como explicar a popularidade intelectual de Ruy Mauro Marini mundo afora?
Nildo Ouriques: A importância do Marini é teórica e política. Ele tinha rigor teórico, metodológico, e expressava a visão da ortodoxia marxista. Na experiência brasileira, e aqui me refiro ao grande movimento de massas interrompido com a derrubada de João Goulart em 1964, ele polemizou a tese socialista chilena no sentido de afirmar os limites da transição pacífica ao socialismo. Soube usar a pista deixada por André Gunder Frank do desenvolvimento do subdesenvolvimento e fez a melhor crítica aos postulados estruturalistas dos cepalinos. Fernando Henrique Cardoso, José Serra e em parte Maria da Conceição Tavares divulgavam o debate sobre a dependência como se não fosse possível haver desenvolvimento no Brasil. Para Marini, haveria desenvolvimento, mas seria o desenvolvimento do subdesenvolvimento. A tese de Frank tinha consistência, mas não estava sustentada plenamente na concepção marxista. Marini, por meio da dialética da dependência, deu acabamento para a tese que é insuperável até hoje. Daí a repercussão do seu trabalho na Itália, França, Alemanha, sobretudo nos demais países latino-americanos, inclusive aqueles submetidos a ditaduras, com exceção do Brasil.
CC: O senhor escreveu na introdução do livro que a teoria da dependência de Fernando Henrique Cardoso foi influenciada pela hegemonia liberal burguesa.
NO: Indiscutivelmente. Os fatos agora demonstram claramente que FHC estava a favor de um projeto de Washington de conter movimentos intelectuais radicais no Brasil. Uma das metas de Fernando Henrique e José Serra era minar o terreno de radicais como Marini. Em 1978, Fernando Henrique e Serra, que havia ganhado uma bolsa nos Estados Unidos, passaram, na volta ao Brasil, pelo México. Marini dirigia a Revista Mexicana de Sociologia (RMS), da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam). Eles deixaram um texto de crítica ao Marini, As Desventuras da Dialética da Dependência, assinado por ambos. Marini disse que publicaria o texto desde que na mesma edição da RMS de 1978 constasse uma resposta crítica de sua autoria. FHC e Serra concordaram. E assim foi feito. Em 1979, FHC e Serra publicaram As Desventuras nos Cadernos do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) número 23. A dupla desrespeitou a prática editorial que Marini lhes reservou no México. Em suma, a resposta de Marini não foi publicada aqui.
Após 43 anos. O livro de Marini, censurado durante a "transição democrática" chega enfim ao Brasil
CC: FHC e Serra teriam adulterado o texto por eles assinado ao se referir a um conceito econômico de Marini.
NO: Alteraram um conceito fundamental na teoria de Marini: o da economia exportadora. Marini previa a redução do mercado interno e a apologia da economia exportadora no Brasil. Segundo ele, com a superexploração da força de trabalho não há salário e mercado interno para garantir a reprodução ampliada do capital de maneira permanente. A veloz tendência da expansão das empresas brasileiras força-as a sair do País, e no exterior elas encontram outras burguesias ultracompetitivas. Fernando Henrique e Serra mudaram o conceito de “economia exportadora” e substituíram por “economia agroexportadora” no texto publicado pelo Cebrap. Marini falava que o Brasil exportaria produtos industriais, inclusive aviões, como de fato exportamos. Mas isso não muda nada. A tendência da economia exportadora implica a drástica limitação do mercado interno. FHC e Serra queriam levantar a hipótese de que Marini não previa a possibilidade de o Brasil se industrializar. Em suma, Marini seria, segundo FHC e Serra, o autor da tese de que no Brasil se estava criando uma economia agroexportadora. Essa adulteração do texto numa questão tão central não ocorre por acaso.
CC: Mas FHC, apesar disso, é tido como o pai da teoria da dependência.
NO: É rigorosamente falso e irônico. Ele e Serra tinham a meta de bloquear essa tendência mais radical, mais ortodoxa, mais rigorosa do ponto de vista analítico de, entre outros, Marini, e pegaram carona. Daí a astúcia, no interior do debate mais importante na área de Ciências Sociais na América Latina: o da teoria da dependência. E nesse contexto se apresentaram como os pais da famosa teoria, especialmente FHC, quando em parceria com Enzo Falleto publica Dependência e Desenvolvimento na América Latina. À época, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) já não tinha condições para defender seus projetos teórico e político, e eles se apresentam como interlocutores nesse debate. Visavam por um lado recuperar as posições cepalinas e de outro evitar o radicalismo político. E foram exitosos, turbinados pelas elites nacional e internacional favoráveis a um projeto de transição lenta, gradual e segura. Um projeto dessa natureza precisa ter uma direita clássica, fascista etc., e também uma versão liberal na qual se encaixa Fernando Henrique Cardoso.
CC: E o que ele representava?
NO: De fato, ele encabeçou a oposição liberal à ditadura. Tornou-se suplente de senador de Franco Montoro e logo em seguida com a eleição deste para o governo do estado se transformou no grande modelo de intelectual político “dentro da ordem”, para usar uma feliz expressão de Florestan Fernandes. Não é um movimento fútil o de FHC. Ele percebe a política do Partido Democrático em Washington, no sentido de democratizar o Brasil, percebe o movimento da elite empresarial em São Paulo por meio do manifesto de 1977 contra o gigantismo estatal e percebe o movimento de massa pelo crescimento do MDB. E assim teve uma brilhante carreira política. Idem o Serra, para falar de políticos mais notórios. E conseguiram produzir numerosos intelectuais no mundo universitário, exceto a intelectualidade que estava mais presa a um novo sindicalismo e ao petismo.
CC: O FHC parece não ter muita credibilidade no mundo acadêmico.
NO: Ele não tem uma obra. Fernando Henrique é no máximo um polemista no interior de um debate acadêmico (dependência) no qual ele não era a figura principal. Mas cumpriu o papel decisivo no sentido de bloquear, coisa que fez com certa eficácia, as correntes mais vitais desse debate. Teve êxito especialmente com a obra de Marini, mas também com livros muito importantes de Theotonio dos Santos, Imperialismo e Dependência, ou Socialismo ou Fascismo, o Novo Dilema Latino-Americano, este publicado até em chinês, mas jamais no Brasil.
CC: Marini concordaria com o senhor que o discurso sobre a nova classe média é uma forma de legitimar o subdesenvolvimento no Brasil?
NO: Completamente. Esse debate esconde algo fundamental, a gigantesca concentração de renda. Enquanto se fala na ascensão da classe média, a pobreza é muito maior: 76% da população economicamente ativa vive com até três salários mínimos, 1,5 mil reais. Ou seja, nem sequer alcançam o salário mínimo do Dieese. Com meu salário de professor em greve (por aumento salarial), pertenço aos 24% mais ricos da sociedade, ao lado do Eike Batista.
CC: Mas, de fato, Lula elevou o nível de vida de milhões de brasileiros.
NO: Lula fez política social. O problema de Fernando Henrique e José Serra é que eles odeiam o povo. FHC não tinha uma política social para o País. Mas política social não traz emprego e renda. Num país subdesenvolvido, inclusive numa estratégia revolucionária, é preciso ter programas emergenciais. A estratégia da erradicação da pobreza de Dilma Rousseff não pode ser realizada exclusivamente com política social. O petismo está mostrando seus limites porque terá de confrontar o poder, o prestígio social e a elite. Se não enfrentar tudo isso, será devorado.

quarta-feira, julho 11, 2012

O que quebrará o País?


Por Wladimir Safatle



O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nos últimos dias que a elevação dos gastos com a educação ao patamar de 10% do Orçamento nacional poderia quebrar o País. Sua colocação vem em má hora. Ele deveria dizer, ao contrário, que a perpetuação dos gastos em educação no nível atual quebrará a Nação.
Neste exato momento, o Brasil assiste a praticamente todas as universidades federais em greve. Uma greve que não pede apenas melhores salários para o quadro de professores e funcionários, mas investimentos mais rápidos em infraestrutura. Com a expansão do ensino universitário federal, as demandas de recurso serão cada vez mais crescentes e necessárias. Isto se quisermos ficar apenas no âmbito das universidades públicas.
Por trás de declarações como as do ministro, esconde-se a incompreensão do que é o próximo desafio do desenvolvimento nacional. Se o Brasil quiser oferecer educação pública e de qualidade para todos precisará investir mais do que até agora foi feito. Precisamos resolver, ao mesmo tempo, problemas do século XIX (como o analfabetismo e o subletrismo) e problemas do século XXI (como subvenção para laboratórios universitários de pesquisa e internacionalização de sua produção acadêmica). Por isto, nada adianta querer comparar o nível de gasto do Brasil com o de países com sistema educacional consolidado como Alemanha, França e outros. Os desafios brasileiros são mais complexos e onerosos.

segunda-feira, julho 09, 2012

Curso Crise do Capitalismo - Sérgio Lessa

Do Blog Marx21.com




Acompanhe aqui o vídeo na íntegra de uma interessante palestra realizada pelo professor Sergio Lessa em 2009. O professor Sérgio Lessa discute o capitalismo atual com base na distinção entre excedente e escassez. Lessa traça a história da humanidade como uma evolução de sistemas econômicos baseados na escassez para um modo de produção no qual o sistema de preços não mais consegue alocar de forma eficiente recursos que não mais são escassos. A eficiência do sistema de mercado e da alocação via preços serviu como forma eficiente somente enquanto recursos produtivos tinham restrições de oferta em face da demanda. O mercado, porém, deixou de ser eficiente como alocador de recursos justamente porque estes recursos econômicos deixaram de ser escassos. Cabe agora repensar o nosso sistema econômico baseado na produção de excedente. O professor também traça um panorama do capitalismo nos últimos 100 anos e explica como social-democracia e sobre-produção se entrelaçavam para garantir a continuidade do sistema. As diversas crises são tematizadas e analisadas através de uma abordagem crítica.



Curso Crise do Capitalismo; Sergio Lessa from Setor de Comunicação on Vimeo.



Minhas observações (Aquiles Melo): A teoria elaborada por Lessa, apesar de interessante, deve ser ainda confirmada. Estabelecer como certo que a crise é de superprodução, uma vez que as forças produtivas atingiu seu ápice e consegue agora contemplar todas as necessidades humanas, precisaria de maiores evidências empíricas.
Outro ponto que Lessa destaca é o de "enterrarmos o capitalismo". Minha concepção sobre sucessão de modos de produção é a de que para que um modo de produção seja extinto outro precisa estar em curso e se desenvolver. O comunismo não cairá dos céus. Será uma conquista da classe trabalhadora, mas que  deverá adotar novas alternativas de produzir para que ele então suceda o capitalismo. Achei essa parte muito hegeliana... Comentem e vamos debater.

quinta-feira, julho 05, 2012

Entrevista de Chico de Oliveira no Roda Viva

O professor emérito da USP Chico de Oliveira falou de política, economia mundial e eleições no Brasil no centro do programa Roda Viva no dia 2 de julho de 2012. Um dos fundadores do PT, Chico de Oliveira abandonou o partido em 2003. Fez parte do grupo de dissidentes que ajudou a criar o PSOL, com o qual também viria a romper. Autor de diversos livros, foi premiado com um Jabuti em 2004, pela obra Crítica a Razão Dualista – O Ornitorrinco. Para o professor, “O ornitorrinco é um fracasso de Darwin” e por isso pode ser comparado ao Brasil, que alcançou a modernidade, porém ainda vive em atraso – “uma necessidade de como o país foi formado”. Contextualizando o Brasil no cenário mundial, o professor traçou uma interessante análise da situação atual do nosso país e dos possíveis rumos nos anos a frente. Veja aqui esta excelente entrevista na íntegra.





Minhas observações: Chico, nesta entrevista, deixou muitas pistas e questionamentos, alguns podem até gerar uma tese, rsrsrs.


1) Qual o papel da esquerda na contemporaneidade? É, como afirma, o Estado de Bem Estar? É domar o capital? 
2) Já que o PSOL não é uma opção, segundo afirma, o que poderia ser essa opção? Qual o equívoco do PSOL? O que deveria ser feito por um partido de esquerda?
3) Até que ponto a influência da "alma" do brasileiro pode determinar o avanço ou retrocesso do capital no Brasil? 
4) Qual o verdadeiro papel do sindicalismo na formação da esquerda no Brasil?
5) Qual papel exerce Lula no desenvolvimento da esquerda brasileira? Poderíamos afirmar, como Chico afirma, que o governo Lula não trouxe avanços? 
6) Até que ponto alianças e apoio devem ser ou não aceitos (essa pergunta fiz ao Milton Temer no twitter e ainda não tive uma resposta satisfatória)


Então camaradas, ao debate!

terça-feira, julho 03, 2012

Para tirar a ferrugem: Microdesencontros da Macroeconomia

Um bom artigo do camarada Luiz Gonzaga Belluzzo, confiram:

Valor Econômico, 5.6.2012


Microdesencontros da Macroeconomia



Sábado, 2 de junho, Paul Krugman distribuiu mais cacetadas lógicas nos adeptos da austeridade europeia. Desta vez, sobrou para o inglês David Cameron e seus ministros. Segundo o colunista do "The New York Times" e da "Folha de S. Paulo", os "austeros" ingleses equiparam o problema da dívida nacional de uma economia aos problemas da dívida de uma família. Se uma família acumulou dívidas demais, deve apertar os cintos. Os governos não devem fazer o mesmo?
A resposta de Krugman: uma economia não é uma família endividada. "Nossa dívida (privada) consiste principalmente de dinheiro que devemos uns aos outros; ainda mais importante, nossa renda provém principalmente de vender coisas uns aos outros. Seu gasto é minha renda e meu gasto é sua renda. Assim, o que acontece se todo mundo reduzir gasto simultaneamente a fim de reduzir suas dívidas? Resposta: a renda cai".
Quando se trata de cuidar do funcionamento da economia como um todo, ou seja, de questões ditas macroeconômicas, os vícios do senso comum e do individualismo metodológico levam a recomendações suicidas de política econômica, como as oferecidas por Cameron, Merkel & Cia.
Déficits ou superávits públicos vão depender da resposta do setor privado ao estímulo do gasto governamental
As trapalhadas começam com a definição da chamada macroeconomia como "a economia dos agregados". Nessa visão apologética, a "agregação" dos comportamentos individuais racionais leva necessariamente ao equilíbrio do conjunto da economia, o que torna nocivas as intervenções dos governos. Não por acaso, os economistas da corrente principal se empenham com denodo na descoberta dos fundamentos microeconômicos da macroeconomia, assim como os alquimistas buscavam a pedra filosofal. Essa proeza intelectual pretende convencer os incautos de que o movimento do "macro" é resultado da agregação das decisões no âmbito "micro".
Keynes, o fundador da macroeconomia, escreve nos manuscritos preparatórios da "Teoria Geral" de 1933 que a economia monetária da produção funciona segundo o circuito "macro" do dinheiro-mercadoria-dinheiro (D-M-D"), "a profícua descoberta de Karl Marx". Ele utiliza Marx com o propósito de afirmar o caráter "originário" das decisões de gasto monetário do conjunto da classe capitalista, num triplo sentido: 1) a propriedade das empresas e o acesso ao crédito conferem a essa classe social a faculdade de gastar acima de sua renda (lucros) corrente; 2) as decisões de gasto na produção corrente e na formação de nova capacidade (investimento) criam o espaço de valor (a renda nominal da economia como um todo), mediante o pagamento dos salários e geração de lucros sob a forma monetária. 3) A "criação" da renda e do lucro gera os fluxos de consumo e de poupanças. Estas últimas encarnam-se em reinvindicações genéricas à riqueza e à renda futura - a massa de ativos financeiros formados pelo rastro de dívidas e pelos direitos de propriedade, ambos avaliados diariamente em mercados organizados.
Contemporaneamente a Keynes, o economista polonês Michael Kalecki valeu-se dos esquemas de reprodução de Marx para formular o princípio da demanda efetiva. Kalecki investiga as condições de reprodução da economia composta de três macrodepartamentos: bens de consumo dos trabalhadores, bens de produção e bens de consumo dos capitalistas. Ao utilizar os esquemas de reprodução, Kalecki procura mostrar que o princípio da demanda efetiva já está posto no volume 3 de "O Capital". Aí Marx distingue as condições de produção do valor das condições de sua realização. As primeiras dependem da capacidade produtiva da sociedade, as segundas decorrem da disposição dos capitalistas de renovar o circuito de valorização do capital-dinheiro, D-M-D".
Assim, ao comentar a equação: "lucros brutos = investimento bruto + consumo dos capitalistas", Kalecki se pergunta sobre o seu significado: "Significa ela, por acaso, que os lucros, em um dado período, determinam o consumo e o investimento dos capitalistas, ou o inverso, disso? A resposta a essa questão depende de se determinar qual desses itens está sujeito diretamente às decisões dos capitalistas. Fica claro, pois, que os capitalistas podem decidir consumir e investir mais em um dado período, do que no precedente. Mas eles não podem decidir ganhar mais. São, portanto, suas decisões de investimento e consumo que determinam os lucros e não vice-versa".
As análises de Keynes e de Kalecki podem ser aplicadas às decisões de gasto do governo: as autoridades podem decidir gastar mais ou menos, mas não podem determinar o resultado fiscal. Déficits ou superávits vão depender da resposta do setor privado ao estímulo do gasto público. Se o governo corta o gasto em uma conjuntura de desalavancagem do setor privado - empresas e famílias - a queda da renda "agregada" vai inexoravelmente levar a uma trajetória perversa dos déficits e das dívidas públicas e privadas, com efeitos indesejáveis sobre os bancos financiadores. Essas são as lições da crise europeia.
Nos debates que se seguiram à publicação da "Teoria Geral", Keynes não conseguiu demonstrar a seus críticos e comentadores - Hayek e Hicks entre eles - que o princípio da demanda efetiva era uma ruptura radical com os postulados da chamada teoria clássica. Na tentativa de não assustar a tigrada e a si mesmo, Keynes, enfant terrible do establishment britânico, refugiou-se numa argumentação contemporizadora que escondeu a natureza revolucionária do conceito de demanda efetiva. Keynes procurou traduzir para a linguagem de seus críticos a inversão radical produzida nas relações de determinação entre os fluxos de gasto e renda, investimento e poupança. Não sublinhou com a ênfase devida as consequências da avaliação nos mercados financeiros dos estoques de dívida e de direitos de propriedade (rastros da riqueza já criada) sobre as decisões de gasto das empresas, das famílias e dos governos.
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-feiras. Em 2001, foi incluído entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists.