quinta-feira, agosto 02, 2012

Horizonte sombrio - Paulo Passarinho

Neste  artigo Paulo Passarinho faz uma análise importante do imediatismo que predomina na equipe econômica do governo. Em não possuir uma estratégia de longo prazo para nossa economia, as propostas elaboradas pelo governo se adequam não ás necessidades da população, mas de acordo com a força do lobby dos empresários. Confiram. (Aquiles Melo)

Paulo Passarinho
Em 25 de maio de 2012
Do site:  Correio da Cidadania

Há pouco tempo, escrevi um artigo (No reino do curto-prazo) destacando a dependência do governo, em seu processo de tomada de decisões, de situações conjunturais de curto-prazo.
Esse é um dos elementos que evidenciam a total subordinação do país a diferentes circunstâncias econômicas, sem que tenhamos um norte estratégico definido. Vivemos, assim, a ausência de um projeto de nação que estabeleça metas e objetivos nacionais a serem atingidos no curto, médio e longo prazos, através de meios e instrumentos factíveis e racionais. Algo que no passado era denominado de planejamento.
Vivemos, na verdade, a realidade de um país que navega nas ondas circunstanciais das pressões de um mercado globalizado e cada vez mais concentrado e altamente competitivo. O Brasil atual (com as suas estruturas de poder) passa a ser, desse modo, um administrador de pressões e interesses que surgem dos pólos mais dinâmicos do atual jogo global, notadamente corporações transnacionais e financeiras.
Frente, por exemplo, à fase da crise do capital que se abre a partir de 2007/2008, e que no momento aponta para o agravamento da situação de crise na Europa, com a possibilidade de a Grécia deixar a área do euro, o governo procura se agarrar a qualquer expediente que lhe garanta que a economia brasileira possa ter, agora em 2012, uma taxa de crescimento um pouco maior que a obtida em 2011.
Para tanto, Guido Mantega, o ministro da Fazenda, apresentou nesta semana um novo pacote de incentivo ao consumo, especialmente voltado para a indústria automotiva. Reduções na cobrança do IPI, diminuição do IOF em operações de crédito às pessoas físicas, liberação de recursos de R$ 18 bilhões dos depósitos compulsórios do Banco Central para “irrigar” o crédito e taxas de juros mais reduzidas no BNDES foram as principais medidas anunciadas.
Um dia após esse anúncio, o próprio ministro, em depoimento no Senado, admitiu que houve pressões das montadoras na elaboração do pacote. Com os seus pátios cheios de automóveis, as fábricas ameaçavam com demissões ou férias coletivas os seus empregados.
O governo tenta um pouco mais do mesmo. No início da crise, em 2008, o governo apostou na demanda interna, no consumo das famílias, para garantir taxas positivas de crescimento. Perdeu em 2009, com o resultado negativo do PIB, mas ganhou folgadamente em 2010, um ano eleitoral e que garantiu a eleição de Dilma à presidência.
Contudo, o quadro atual é diferenciado. Com a expansão das vendas a crédito no país, com um custo financeiro muito elevado, por conta das altas taxas de juros, há um endividamento acumulado bastante elevado e o nível de inadimplência das famílias começa a preocupar. A renda real dos trabalhadores somente se eleva nos estratos mais pobres da população, assim como o próprio emprego. Mesmo em um contexto de redução das taxas de juros, nota-se que os pátios das montadoras revelam que existe uma saturação da demanda por automóveis – assim como de outros bens de consumo duráveis – que dificilmente será de fato revertida com as medidas anunciadas.
A alternativa de se buscar através do incremento dos investimentos uma saída para a reversão do baixo crescimento econômico também parece problemática. No plano privado, as incertezas provocadas pela própria crise não nos possibilitam imaginar uma mudança no patamar de investimentos que nos últimos anos temos observado, mesmo com o endividamento contraído pelo Tesouro para incrementar a atuação do BNDES junto aos seus clientes privados. Pelo lado da iniciativa direta do Estado, a ditadura fiscal do superávit primário nos impede de qualquer esperança de uma mudança na atual taxa de investimento do setor público.
Complicando um pouco mais o quadro em que se debate o governo, nas últimas semanas a saída de dólares do país se intensificou. A acentuada queda nas cotações do Ibovespa revela essa pressão de venda de ações, especialmente por parte de investidores estrangeiros, mas também por parte de especuladores brasileiros.
A curiosidade dessa situação – que fez com que nessa semana o dólar chegasse a ser negociado a R$2,10, obrigando o Banco Central a vender parte de suas reservas internacionais para fazer a cotação da moeda americana recuar – é que há muito pouco tempo a preocupação do governo era com a excessiva valorização do Real. Tal qual uma biruta de aeroporto, parece que a sensibilidade das autoridades econômicas depende dos ventos de cada momento.
E essa “fuga do risco” por parte dos especuladores é certamente a maior preocupação do governo. Nos últimos anos, nossa vulnerabilidade externa aumentou enormemente. Além de termos deixado para trás os anos em que o saldo comercial do país cobriu as despesas com o pagamento da nossa conta de serviços, entre os anos de 2003 e 2007, desde 2008 temos contraído crescentes déficits em conta corrente, cobertos pela entrada de capitais para aplicações financeiras ou para a aquisição de ativos reais.
O professor Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, em recente trabalho (Governo Lula e o nacional-desenvolvimentismo às avessas, publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política, de fevereiro de 2012), aponta que o passivo externo total do Brasil (o conjunto dos compromissos do país com os estrangeiros) evoluiu de US$ 343 bilhões, no final de 2002, para US$ 1,294 trilhão.
Descontando-se desse passivo total os investimentos diretos dos estrangeiros (investimentos em ativos reais: fábricas, terras, supermercados e demais negócios produtivos), temos os dados do chamado passivo externo financeiro (aplicações em bolsa e títulos financeiros, incluindo títulos da dívida pública). Em 2002, o total desse passivo era de US$ 260 bilhões e, em 2010, alcançou a cifra de US$ 916 bilhões.
Esses são passivos que rapidamente, em um momento de crise, podem conformar uma forte pressão por liquidez, com o objetivo de serem retirados do país, produzindo fortes pressões sobre o mercado de câmbio. Reinaldo Gonçalves destaca que, mesmo ao se levar em conta as elevadas reservas internacionais do país – sempre lembradas como um poderoso instrumento à disposição do governo –, a situação não é confortável: em 2002, esse denominado passivo externo financeiro líquido era de US$ 222 bilhões; em 2010, ao final do governo Lula, já havia atingido US$ 628 bilhões.
 Além disso, sob o ponto de vista estrutural, não há nenhum indício de uma leve reversão que seja do quadro de desequilíbrio corrente das contas externas. Ao contrário, e os resultados de 2011 e deste 2012 demonstram claramente, há um crescimento cada vez mais robusto do déficit da conta de serviços, puxado pelas remessas de lucros, dividendos e juros da dívida externa, ao mesmo tempo em que a tendência é de uma redução do saldo comercial do país.

Paulo Passarinho é economista e apresentador do programa de rádio Faixa Livre.


quarta-feira, agosto 01, 2012

Brazil's Banks Need to Serve Economy, Navigate Global Risks - Relatório do FMI sobre Estabilidade Financeira do Brasil


O FMI avisa: “Rapid credit expansion in recent years has supported domestic economic growth and broader financial inclusion, but could also create vulnerabilities.” O processo de financeirização da economia brasileira ocorre de forma muito rápida e já fornece sinais de esgotamento de sua capacidade de aquecer a economia. (Aquiles Melo)


Brazil, a member of the Group of Twenty advanced and emerging economies and the world’s fifth biggest economy, has a vibrant financial sector but will need to keep an eye on risks from abroad as well as at home.

Brazil’s financial system has grown in size, diversification, and sophistication, according to the International Monetary Fund’s latest assessment of the country’s financial system.
Over the past decade, financial sector assets more than doubled owing to the stable economy, the expansion of the securities and derivatives markets, and money pouring in from institutional investors from home and abroad.
Thanks to deft policies and built-in cushions, Brazil’s financial system weathered the global crisis that began in 2008 remarkably well. Now, policymakers need to navigate the turbulent global economy and monitor for signs of home-grown financial trouble, the IMF said.

segunda-feira, julho 30, 2012

Presidente do Ipea analisa a 'nova classe média'


Marcio Porchmann lança "Nova Classe Média?"
Por Caio Zinet
Caros Amigos

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Durante a última década, o Brasil vivenciou um intenso fenômeno político e econômico, a ascensão de milhões de pessoas à chamada “nova Classe C”. Para analisar esse novo elemento social brasileiro, o presidente do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Márcio Porchmann, escreveu o livro "Nova Classe Média?" pela editora Boitempo. O livro tem lançamento e debate programados para o dia 29 desse mês de maio, às 19h30, no prédio da Economia da PUC, em São Paulo.

Para o pesquisador há uma disputa sobre o que represente essa nova Classe, principalmente em torno da discussão se ela pertence a um setor da classe média, ou se é um setor da classe trabalhadora. Para ele, essa discussão tem intensas repercussões sobre a atuação e o papel do Estado .
“Se a identidade que nos estamos tendo é a de classe média a pressão para que o Estado subsidie o setor privado tenderá a ser maior. Se nós entendemos que se trata de novos segmentos no interior da classe trabalhadora a pressão é de outra natureza”, afirmou.
Ele traçou ainda um perfil dessas novas pessoas que ascenderam da base da pirâmide social, que pare ele escaparam da influência das instituições políticas democráticas. Para ele isso tem repercussões importantes na política brasileira.
Confira abaixo a entrevista na íntegra.

domingo, julho 29, 2012

Por que tantos filósofos comunistas?


Santiago Zabala é pesquisador e professor de filosofia da Institució Catalana de Recerca i Estudis Avançats, ICREA[1], da Universidade de Barcelona. É autor, dentre outros trabalhos, de The Hermeneutic Nature of Analytic Philosophy (2008), The Remains of Being (2009), e, mais recentemente, com G. Vattimo, Hermeneutic Communism(2011), todos publicados pela Columbia University Press.


Barcelona – Ler Marx e escrever sobre Marx não faz de ninguém comunista, mas a evidência de que tantos importantes filósofos estão reavaliando as ideias de Marx com certeza significa alguma coisa. 

A crise financeira de 2008 despertou um renovado interesse nos escritos de Karl Marx, afirma Zabala [EPA]
Depois da crise econômica global que começou no outono de 2008, voltaram a aparecer nas livrarias novas edições de textos de Marx, além de introduções, biografias e novas interpretações do mestre alemão.

terça-feira, julho 24, 2012

Do Crescimento com Lula à Estagnação com Dilma


do blog Marx21.com


O ciclo econômico positivo originado durante o governo Lula agora se desfaz com o governo Dilma. Do boom das exportações de commodities, dos aumentos dos salário mínimo, da redução da pobreza, do aumento do consumo das famílias e do aumento dos gastos do governo, vivemos agora a reversão completa com políticas de fortes cortes de gastos públicos e falta de reajustes a servidores federais. Conjugada à crise mundial, as políticas econômicas adotadas por Dilma vão na contramão do crescimento brasileiro. Em lugar de estimular a demanda, o governo atual preferiu optar erroneamente pela austeridade nos gastos públicos. Como medidas emergenciais, Dilma agora adota políticas para atuar no lado do barateamento do crédito e da desoneração da folha de salários, sem maiores preocupações com a demanda agregada. O declínio constante do PIB brasileiro não esconde as opções de Dilma. A análise é de Ricardo Summa.
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Acompanhe abaixo a gravação da recente apresentação de Ricardo Summa, professor do departamento de economia da UFRJ, sobre a atual política econômica do governo Dilma




(*) Vídeos publicados originalmente no blog da Revista Circus.
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Aproveito para complementar a discussão com um interessante comentário do professorFranklin Serrano feito através do Facebook:
“Eu acho (e o Summa também) que desonerar o salário em nada adianta para combater o subemprego e a informalidade. Um problema teórico de que para a desoneração funcionasse no caso mais geral teríamos que acreditar que existe forte efeito substituição entre um suposto fator de produção capital e o trabalho. O problema é que a desoneração geral afetaria também os salários dos setores que produzem os bens de capital e aí em geral nada pode ser dito sobre a mudança do coeficiente de trabalho quando o custo salarial cai. O outro problema mais simples é que mesmo que desoneração torne mais lucrativa técnicas mais intensivas em mão de obra (riquixás substituiriam taxis !) tem o problema de que isso apenas aumenta a margem de lucro das empresas e não suas vendas. Desonerar em geral nada aumenta a demanda efetiva da economia. Apenas concentra renda. Desonerações em setores específicos com problema de competitividade podiam dar um alívio para setores que estão na margem da extinção pela concorrência chinesa. Mais aí como a produtividade deles aumenta o tempo todo e a nossa não por falta de política industrial e tecnológica, ia ter que ter uma desoneração nova todo ano e um dia ia ter que acabar nossa previdência. Além disso, note que nos últimos anos o subemprego caiu muito e a informalidade também e o instrumento para isso parece ter sido o AUMENTO do salário minimo e dos custos salariais. Aconteceu o exato contrário do que tinha que acontecer para a tese da desoneração geral da folha de salários fazer sentido. [...] Na prática, se o problema é emprego, em geral é melhor o governo gastar direto ou fazer transferências para os mais pobres que tem maior propensão a consumir. Se o problema é competitividade industrial, é melhor fazer política industrial, de preferência através de compras públicas com exigência de upgrade tecnológico. Desonerar empresas é fácil e os empresários adoram, mas concentra renda e não adianta muito pelos motivos acima.”

Mangabeira Unger no Roda Viva

Interessante entrevista com Mangabeira Unger. Importante notar é que, enquanto a direita e até mesmo o que ele chama de esquerda propõe soluções e alternativas para nosso país, a "verdadeira esquerda" se cala no aguardo se os próximos passos do governo terão resultados positivos (PT), ou então recaem no denuncismo e na crítica estéril que não propõem qualquer alternativa, senão sonhos. (PSOL)


Roda Viva recebeu, no dia 16 de julho de 2012, o filósofo, jurista e ex-ministro de Assuntos Estratégicos do governo Lula Roberto Mangabeira Unger, que falou sobre política – nacional e internacional. Roberto Mangabeira Unger foi professor do presidente americano Barack Obama, na Universidade de Harvard (EUA), onde é professor titular. Recentemente, o jurista divulgou um vídeo defendendo a derrota de seu ex-aluno nas próximas eleições presidenciais do país. Sua posição contrária ao governo Lula também foi assunto em pauta. Unger afirmou, em artigo no jornal Folha de S. Paulo (2005), que esse era o governo mais corrupto da história. Depois disso, ele foi nomeado para o cargo de ministro. No Roda Viva, ele afirmou: “Eu reconheço que temos um problema estrutural de corrupção no Brasil, mas esse problema tem soluções e passam pelo financiamento de campanhas e pela reforma de processo orçamentário”.

domingo, julho 22, 2012

O Brasil (ainda) precisa planejar





Carlos Lessa, No IPEA

"A crise mundial iniciada em 2008 promete vicissitudes que recolocarão o debate sobre futuro brasileiro. Voltarão ideia de planejar a reativação de um projeto nacional brasileiro"

A expressão “plano” esteve, assepticamente, livre de qualquer viés ideológico, até que, após a Revolução Comunista Soviética, foi utilizada como horizonte e guia político-econômico do Estado nacional. Ali teve início a formulação do I Plano Quinquenal Soviético e foi instalada uma equipe encarregada de planificar a trajetória futura da União Soviética. A partir desse momento, as expressões “plano” e “planificação” passaram a ser identificadas como o modo pelo qual o Estado socialista poderia dispensar as regras do jogo capitalista e atuar de forma organizada para a evolução da nova sociedade.

Em sentido amplo, propor fazer um plano nacional e instalar um processo de planificação marcavam uma posição de esquerda, e o debate ideológico passou a repudiar essas expressões como sínteses de uma prática hostil ao capitalismo, que buscavam  a  transformação  e  o  desenvolvimento econômico de uma nova ordem social e política.

As imperfeições microeconômicas da economia de mercado já haviam sido mapeadas pela análise neoclássica. As visões teóricas de um monopólio bilateral entre as relações do capital patronal e o trabalho assalariado já insinuavam ajustes institucionais em direção ao que se denominou economia social de mercado. O receituário político-econômico da economia política clássica liberal inglesa e as derivações da teoria do equilíbrio  geral neoclássico haviam feito evoluir da ideia de Estado gendarme, guardião de contratos e do livre jogo de mercado e decantado como paradigma liberal à figura do Estado mínimo, com os mais reduzidos instrumentos de atuação discriminatória. Houve um presidente chileno, Barros Lugo, que afirmou ser “muito fácil” seu cargo, pois os problemas ou eram auto-solucionáveis, ou não tinham solução e ele não tinha com o que se preocupar - e passou à história como nome de saboroso sanduíche local.