quarta-feira, julho 11, 2012

O que quebrará o País?


Por Wladimir Safatle



O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nos últimos dias que a elevação dos gastos com a educação ao patamar de 10% do Orçamento nacional poderia quebrar o País. Sua colocação vem em má hora. Ele deveria dizer, ao contrário, que a perpetuação dos gastos em educação no nível atual quebrará a Nação.
Neste exato momento, o Brasil assiste a praticamente todas as universidades federais em greve. Uma greve que não pede apenas melhores salários para o quadro de professores e funcionários, mas investimentos mais rápidos em infraestrutura. Com a expansão do ensino universitário federal, as demandas de recurso serão cada vez mais crescentes e necessárias. Isto se quisermos ficar apenas no âmbito das universidades públicas.
Por trás de declarações como as do ministro, esconde-se a incompreensão do que é o próximo desafio do desenvolvimento nacional. Se o Brasil quiser oferecer educação pública e de qualidade para todos precisará investir mais do que até agora foi feito. Precisamos resolver, ao mesmo tempo, problemas do século XIX (como o analfabetismo e o subletrismo) e problemas do século XXI (como subvenção para laboratórios universitários de pesquisa e internacionalização de sua produção acadêmica). Por isto, nada adianta querer comparar o nível de gasto do Brasil com o de países com sistema educacional consolidado como Alemanha, França e outros. Os desafios brasileiros são mais complexos e onerosos.

segunda-feira, julho 09, 2012

Curso Crise do Capitalismo - Sérgio Lessa

Do Blog Marx21.com




Acompanhe aqui o vídeo na íntegra de uma interessante palestra realizada pelo professor Sergio Lessa em 2009. O professor Sérgio Lessa discute o capitalismo atual com base na distinção entre excedente e escassez. Lessa traça a história da humanidade como uma evolução de sistemas econômicos baseados na escassez para um modo de produção no qual o sistema de preços não mais consegue alocar de forma eficiente recursos que não mais são escassos. A eficiência do sistema de mercado e da alocação via preços serviu como forma eficiente somente enquanto recursos produtivos tinham restrições de oferta em face da demanda. O mercado, porém, deixou de ser eficiente como alocador de recursos justamente porque estes recursos econômicos deixaram de ser escassos. Cabe agora repensar o nosso sistema econômico baseado na produção de excedente. O professor também traça um panorama do capitalismo nos últimos 100 anos e explica como social-democracia e sobre-produção se entrelaçavam para garantir a continuidade do sistema. As diversas crises são tematizadas e analisadas através de uma abordagem crítica.



Curso Crise do Capitalismo; Sergio Lessa from Setor de Comunicação on Vimeo.



Minhas observações (Aquiles Melo): A teoria elaborada por Lessa, apesar de interessante, deve ser ainda confirmada. Estabelecer como certo que a crise é de superprodução, uma vez que as forças produtivas atingiu seu ápice e consegue agora contemplar todas as necessidades humanas, precisaria de maiores evidências empíricas.
Outro ponto que Lessa destaca é o de "enterrarmos o capitalismo". Minha concepção sobre sucessão de modos de produção é a de que para que um modo de produção seja extinto outro precisa estar em curso e se desenvolver. O comunismo não cairá dos céus. Será uma conquista da classe trabalhadora, mas que  deverá adotar novas alternativas de produzir para que ele então suceda o capitalismo. Achei essa parte muito hegeliana... Comentem e vamos debater.

quinta-feira, julho 05, 2012

Entrevista de Chico de Oliveira no Roda Viva

O professor emérito da USP Chico de Oliveira falou de política, economia mundial e eleições no Brasil no centro do programa Roda Viva no dia 2 de julho de 2012. Um dos fundadores do PT, Chico de Oliveira abandonou o partido em 2003. Fez parte do grupo de dissidentes que ajudou a criar o PSOL, com o qual também viria a romper. Autor de diversos livros, foi premiado com um Jabuti em 2004, pela obra Crítica a Razão Dualista – O Ornitorrinco. Para o professor, “O ornitorrinco é um fracasso de Darwin” e por isso pode ser comparado ao Brasil, que alcançou a modernidade, porém ainda vive em atraso – “uma necessidade de como o país foi formado”. Contextualizando o Brasil no cenário mundial, o professor traçou uma interessante análise da situação atual do nosso país e dos possíveis rumos nos anos a frente. Veja aqui esta excelente entrevista na íntegra.





Minhas observações: Chico, nesta entrevista, deixou muitas pistas e questionamentos, alguns podem até gerar uma tese, rsrsrs.


1) Qual o papel da esquerda na contemporaneidade? É, como afirma, o Estado de Bem Estar? É domar o capital? 
2) Já que o PSOL não é uma opção, segundo afirma, o que poderia ser essa opção? Qual o equívoco do PSOL? O que deveria ser feito por um partido de esquerda?
3) Até que ponto a influência da "alma" do brasileiro pode determinar o avanço ou retrocesso do capital no Brasil? 
4) Qual o verdadeiro papel do sindicalismo na formação da esquerda no Brasil?
5) Qual papel exerce Lula no desenvolvimento da esquerda brasileira? Poderíamos afirmar, como Chico afirma, que o governo Lula não trouxe avanços? 
6) Até que ponto alianças e apoio devem ser ou não aceitos (essa pergunta fiz ao Milton Temer no twitter e ainda não tive uma resposta satisfatória)


Então camaradas, ao debate!

terça-feira, julho 03, 2012

Para tirar a ferrugem: Microdesencontros da Macroeconomia

Um bom artigo do camarada Luiz Gonzaga Belluzzo, confiram:

Valor Econômico, 5.6.2012


Microdesencontros da Macroeconomia



Sábado, 2 de junho, Paul Krugman distribuiu mais cacetadas lógicas nos adeptos da austeridade europeia. Desta vez, sobrou para o inglês David Cameron e seus ministros. Segundo o colunista do "The New York Times" e da "Folha de S. Paulo", os "austeros" ingleses equiparam o problema da dívida nacional de uma economia aos problemas da dívida de uma família. Se uma família acumulou dívidas demais, deve apertar os cintos. Os governos não devem fazer o mesmo?
A resposta de Krugman: uma economia não é uma família endividada. "Nossa dívida (privada) consiste principalmente de dinheiro que devemos uns aos outros; ainda mais importante, nossa renda provém principalmente de vender coisas uns aos outros. Seu gasto é minha renda e meu gasto é sua renda. Assim, o que acontece se todo mundo reduzir gasto simultaneamente a fim de reduzir suas dívidas? Resposta: a renda cai".
Quando se trata de cuidar do funcionamento da economia como um todo, ou seja, de questões ditas macroeconômicas, os vícios do senso comum e do individualismo metodológico levam a recomendações suicidas de política econômica, como as oferecidas por Cameron, Merkel & Cia.
Déficits ou superávits públicos vão depender da resposta do setor privado ao estímulo do gasto governamental
As trapalhadas começam com a definição da chamada macroeconomia como "a economia dos agregados". Nessa visão apologética, a "agregação" dos comportamentos individuais racionais leva necessariamente ao equilíbrio do conjunto da economia, o que torna nocivas as intervenções dos governos. Não por acaso, os economistas da corrente principal se empenham com denodo na descoberta dos fundamentos microeconômicos da macroeconomia, assim como os alquimistas buscavam a pedra filosofal. Essa proeza intelectual pretende convencer os incautos de que o movimento do "macro" é resultado da agregação das decisões no âmbito "micro".
Keynes, o fundador da macroeconomia, escreve nos manuscritos preparatórios da "Teoria Geral" de 1933 que a economia monetária da produção funciona segundo o circuito "macro" do dinheiro-mercadoria-dinheiro (D-M-D"), "a profícua descoberta de Karl Marx". Ele utiliza Marx com o propósito de afirmar o caráter "originário" das decisões de gasto monetário do conjunto da classe capitalista, num triplo sentido: 1) a propriedade das empresas e o acesso ao crédito conferem a essa classe social a faculdade de gastar acima de sua renda (lucros) corrente; 2) as decisões de gasto na produção corrente e na formação de nova capacidade (investimento) criam o espaço de valor (a renda nominal da economia como um todo), mediante o pagamento dos salários e geração de lucros sob a forma monetária. 3) A "criação" da renda e do lucro gera os fluxos de consumo e de poupanças. Estas últimas encarnam-se em reinvindicações genéricas à riqueza e à renda futura - a massa de ativos financeiros formados pelo rastro de dívidas e pelos direitos de propriedade, ambos avaliados diariamente em mercados organizados.
Contemporaneamente a Keynes, o economista polonês Michael Kalecki valeu-se dos esquemas de reprodução de Marx para formular o princípio da demanda efetiva. Kalecki investiga as condições de reprodução da economia composta de três macrodepartamentos: bens de consumo dos trabalhadores, bens de produção e bens de consumo dos capitalistas. Ao utilizar os esquemas de reprodução, Kalecki procura mostrar que o princípio da demanda efetiva já está posto no volume 3 de "O Capital". Aí Marx distingue as condições de produção do valor das condições de sua realização. As primeiras dependem da capacidade produtiva da sociedade, as segundas decorrem da disposição dos capitalistas de renovar o circuito de valorização do capital-dinheiro, D-M-D".
Assim, ao comentar a equação: "lucros brutos = investimento bruto + consumo dos capitalistas", Kalecki se pergunta sobre o seu significado: "Significa ela, por acaso, que os lucros, em um dado período, determinam o consumo e o investimento dos capitalistas, ou o inverso, disso? A resposta a essa questão depende de se determinar qual desses itens está sujeito diretamente às decisões dos capitalistas. Fica claro, pois, que os capitalistas podem decidir consumir e investir mais em um dado período, do que no precedente. Mas eles não podem decidir ganhar mais. São, portanto, suas decisões de investimento e consumo que determinam os lucros e não vice-versa".
As análises de Keynes e de Kalecki podem ser aplicadas às decisões de gasto do governo: as autoridades podem decidir gastar mais ou menos, mas não podem determinar o resultado fiscal. Déficits ou superávits vão depender da resposta do setor privado ao estímulo do gasto público. Se o governo corta o gasto em uma conjuntura de desalavancagem do setor privado - empresas e famílias - a queda da renda "agregada" vai inexoravelmente levar a uma trajetória perversa dos déficits e das dívidas públicas e privadas, com efeitos indesejáveis sobre os bancos financiadores. Essas são as lições da crise europeia.
Nos debates que se seguiram à publicação da "Teoria Geral", Keynes não conseguiu demonstrar a seus críticos e comentadores - Hayek e Hicks entre eles - que o princípio da demanda efetiva era uma ruptura radical com os postulados da chamada teoria clássica. Na tentativa de não assustar a tigrada e a si mesmo, Keynes, enfant terrible do establishment britânico, refugiou-se numa argumentação contemporizadora que escondeu a natureza revolucionária do conceito de demanda efetiva. Keynes procurou traduzir para a linguagem de seus críticos a inversão radical produzida nas relações de determinação entre os fluxos de gasto e renda, investimento e poupança. Não sublinhou com a ênfase devida as consequências da avaliação nos mercados financeiros dos estoques de dívida e de direitos de propriedade (rastros da riqueza já criada) sobre as decisões de gasto das empresas, das famílias e dos governos.
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-feiras. Em 2001, foi incluído entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists.

Camaradas, de volta ao trabalho!


Camaradas, o início de 2012 me trouxe uma série de novas experiências, tanto no campo profissional quanto no campo político. Pela primeira vez tive de dividir minha rotina de estudos com meu trabalho, sendo a primeira quase que totalmente sacrificada nesse período. Além disso, assumi um cargo de direção na Prefeitura de Fortaleza, mais precisamente, na Secretaria Regional do Centro - SERCEFOR, onde neste pude, pela primeira vez, alinhar (quando possível) a teoria que aprendi na academia com os desafios de atuar na execução de projetos.
O retorno a este espaço se dá agora de forma diferente. Não vim com respostas, mas sim com mais dúvidas. Vários posicionamentos meus precisaram ser revistos (e ainda precisam), bem como o debate a ser feito deverá ser aprofundado.
Convido então os amigos a se fazerem presentes novamente neste espaço, com suas contribuições, críticas e sugestões. Acompanhem o blog, debatam e façamos deste um espaço de análise crítica densa sobre o que seria o projeto da esquerda para os próximos anos no Brasil e no mundo!
Saudações Socialistas,

Aquiles Melo

quarta-feira, janeiro 04, 2012

A Economia Mundial e o Futuro da Economia Brasileira

Por Tomás Rotta - Marx21


Acompanhe aqui na íntegra a entrevista do economista Delfim Netto para o programa Canal Livre da rede Bandeirantes. Delfim falou sobre os caminhos da economia mundial e como o Brasil participará neste cenário de grandes mudanças. A crise na Europa, a competição chinesa, o risco de desindustrialização no Brasil, a exportação de produtos primários, a valorização cambial e os juros são alguns dos temas abordados.













segunda-feira, dezembro 26, 2011

DINÂMICA DO EMPREGO INDUSTRIAL NO BRASIL ENTRE 1990 E 2009: UMA VISÃO REGIONAL DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO

Por IPEA





O presente trabalho busca analisar o processo de desindustrialização segundo uma ótica regional. A perda da importância da Indústria de Transformação tanto no valor adicionado do Produto Interno Bruto PIB como no total do emprego não é neutra em termos espaciais. A partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em uma desagregação geográfica do nível de microrregiões, encontramos evidência de uma desconcentração industrial. O ganho de relevância industrial de algumas microrregiões, no entanto, parece estar condicionado a um maior volume de emprego em indústrias menos avançadas tecnologicamente, evidenciando que apesar de as regiões industriais consolidadas terem perdido importância, no geral elas continuam liderando o país quando se considera o conteúdo tecnológico das indústrias.

DOWNLOAD do trabalho aqui