terça-feira, julho 03, 2012

Para tirar a ferrugem: Microdesencontros da Macroeconomia

Um bom artigo do camarada Luiz Gonzaga Belluzzo, confiram:

Valor Econômico, 5.6.2012


Microdesencontros da Macroeconomia



Sábado, 2 de junho, Paul Krugman distribuiu mais cacetadas lógicas nos adeptos da austeridade europeia. Desta vez, sobrou para o inglês David Cameron e seus ministros. Segundo o colunista do "The New York Times" e da "Folha de S. Paulo", os "austeros" ingleses equiparam o problema da dívida nacional de uma economia aos problemas da dívida de uma família. Se uma família acumulou dívidas demais, deve apertar os cintos. Os governos não devem fazer o mesmo?
A resposta de Krugman: uma economia não é uma família endividada. "Nossa dívida (privada) consiste principalmente de dinheiro que devemos uns aos outros; ainda mais importante, nossa renda provém principalmente de vender coisas uns aos outros. Seu gasto é minha renda e meu gasto é sua renda. Assim, o que acontece se todo mundo reduzir gasto simultaneamente a fim de reduzir suas dívidas? Resposta: a renda cai".
Quando se trata de cuidar do funcionamento da economia como um todo, ou seja, de questões ditas macroeconômicas, os vícios do senso comum e do individualismo metodológico levam a recomendações suicidas de política econômica, como as oferecidas por Cameron, Merkel & Cia.
Déficits ou superávits públicos vão depender da resposta do setor privado ao estímulo do gasto governamental
As trapalhadas começam com a definição da chamada macroeconomia como "a economia dos agregados". Nessa visão apologética, a "agregação" dos comportamentos individuais racionais leva necessariamente ao equilíbrio do conjunto da economia, o que torna nocivas as intervenções dos governos. Não por acaso, os economistas da corrente principal se empenham com denodo na descoberta dos fundamentos microeconômicos da macroeconomia, assim como os alquimistas buscavam a pedra filosofal. Essa proeza intelectual pretende convencer os incautos de que o movimento do "macro" é resultado da agregação das decisões no âmbito "micro".
Keynes, o fundador da macroeconomia, escreve nos manuscritos preparatórios da "Teoria Geral" de 1933 que a economia monetária da produção funciona segundo o circuito "macro" do dinheiro-mercadoria-dinheiro (D-M-D"), "a profícua descoberta de Karl Marx". Ele utiliza Marx com o propósito de afirmar o caráter "originário" das decisões de gasto monetário do conjunto da classe capitalista, num triplo sentido: 1) a propriedade das empresas e o acesso ao crédito conferem a essa classe social a faculdade de gastar acima de sua renda (lucros) corrente; 2) as decisões de gasto na produção corrente e na formação de nova capacidade (investimento) criam o espaço de valor (a renda nominal da economia como um todo), mediante o pagamento dos salários e geração de lucros sob a forma monetária. 3) A "criação" da renda e do lucro gera os fluxos de consumo e de poupanças. Estas últimas encarnam-se em reinvindicações genéricas à riqueza e à renda futura - a massa de ativos financeiros formados pelo rastro de dívidas e pelos direitos de propriedade, ambos avaliados diariamente em mercados organizados.
Contemporaneamente a Keynes, o economista polonês Michael Kalecki valeu-se dos esquemas de reprodução de Marx para formular o princípio da demanda efetiva. Kalecki investiga as condições de reprodução da economia composta de três macrodepartamentos: bens de consumo dos trabalhadores, bens de produção e bens de consumo dos capitalistas. Ao utilizar os esquemas de reprodução, Kalecki procura mostrar que o princípio da demanda efetiva já está posto no volume 3 de "O Capital". Aí Marx distingue as condições de produção do valor das condições de sua realização. As primeiras dependem da capacidade produtiva da sociedade, as segundas decorrem da disposição dos capitalistas de renovar o circuito de valorização do capital-dinheiro, D-M-D".
Assim, ao comentar a equação: "lucros brutos = investimento bruto + consumo dos capitalistas", Kalecki se pergunta sobre o seu significado: "Significa ela, por acaso, que os lucros, em um dado período, determinam o consumo e o investimento dos capitalistas, ou o inverso, disso? A resposta a essa questão depende de se determinar qual desses itens está sujeito diretamente às decisões dos capitalistas. Fica claro, pois, que os capitalistas podem decidir consumir e investir mais em um dado período, do que no precedente. Mas eles não podem decidir ganhar mais. São, portanto, suas decisões de investimento e consumo que determinam os lucros e não vice-versa".
As análises de Keynes e de Kalecki podem ser aplicadas às decisões de gasto do governo: as autoridades podem decidir gastar mais ou menos, mas não podem determinar o resultado fiscal. Déficits ou superávits vão depender da resposta do setor privado ao estímulo do gasto público. Se o governo corta o gasto em uma conjuntura de desalavancagem do setor privado - empresas e famílias - a queda da renda "agregada" vai inexoravelmente levar a uma trajetória perversa dos déficits e das dívidas públicas e privadas, com efeitos indesejáveis sobre os bancos financiadores. Essas são as lições da crise europeia.
Nos debates que se seguiram à publicação da "Teoria Geral", Keynes não conseguiu demonstrar a seus críticos e comentadores - Hayek e Hicks entre eles - que o princípio da demanda efetiva era uma ruptura radical com os postulados da chamada teoria clássica. Na tentativa de não assustar a tigrada e a si mesmo, Keynes, enfant terrible do establishment britânico, refugiou-se numa argumentação contemporizadora que escondeu a natureza revolucionária do conceito de demanda efetiva. Keynes procurou traduzir para a linguagem de seus críticos a inversão radical produzida nas relações de determinação entre os fluxos de gasto e renda, investimento e poupança. Não sublinhou com a ênfase devida as consequências da avaliação nos mercados financeiros dos estoques de dívida e de direitos de propriedade (rastros da riqueza já criada) sobre as decisões de gasto das empresas, das famílias e dos governos.
Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-feiras. Em 2001, foi incluído entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists.

Camaradas, de volta ao trabalho!


Camaradas, o início de 2012 me trouxe uma série de novas experiências, tanto no campo profissional quanto no campo político. Pela primeira vez tive de dividir minha rotina de estudos com meu trabalho, sendo a primeira quase que totalmente sacrificada nesse período. Além disso, assumi um cargo de direção na Prefeitura de Fortaleza, mais precisamente, na Secretaria Regional do Centro - SERCEFOR, onde neste pude, pela primeira vez, alinhar (quando possível) a teoria que aprendi na academia com os desafios de atuar na execução de projetos.
O retorno a este espaço se dá agora de forma diferente. Não vim com respostas, mas sim com mais dúvidas. Vários posicionamentos meus precisaram ser revistos (e ainda precisam), bem como o debate a ser feito deverá ser aprofundado.
Convido então os amigos a se fazerem presentes novamente neste espaço, com suas contribuições, críticas e sugestões. Acompanhem o blog, debatam e façamos deste um espaço de análise crítica densa sobre o que seria o projeto da esquerda para os próximos anos no Brasil e no mundo!
Saudações Socialistas,

Aquiles Melo

quarta-feira, janeiro 04, 2012

A Economia Mundial e o Futuro da Economia Brasileira

Por Tomás Rotta - Marx21


Acompanhe aqui na íntegra a entrevista do economista Delfim Netto para o programa Canal Livre da rede Bandeirantes. Delfim falou sobre os caminhos da economia mundial e como o Brasil participará neste cenário de grandes mudanças. A crise na Europa, a competição chinesa, o risco de desindustrialização no Brasil, a exportação de produtos primários, a valorização cambial e os juros são alguns dos temas abordados.













segunda-feira, dezembro 26, 2011

DINÂMICA DO EMPREGO INDUSTRIAL NO BRASIL ENTRE 1990 E 2009: UMA VISÃO REGIONAL DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO

Por IPEA





O presente trabalho busca analisar o processo de desindustrialização segundo uma ótica regional. A perda da importância da Indústria de Transformação tanto no valor adicionado do Produto Interno Bruto PIB como no total do emprego não é neutra em termos espaciais. A partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em uma desagregação geográfica do nível de microrregiões, encontramos evidência de uma desconcentração industrial. O ganho de relevância industrial de algumas microrregiões, no entanto, parece estar condicionado a um maior volume de emprego em indústrias menos avançadas tecnologicamente, evidenciando que apesar de as regiões industriais consolidadas terem perdido importância, no geral elas continuam liderando o país quando se considera o conteúdo tecnológico das indústrias.

DOWNLOAD do trabalho aqui

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Selic e Gastos Públicos com Juros: A taxa básica que cada vez menos baliza


Por Fundap



     O primeiro artigo publicado na série Estudos Fundap, intitulado de "Selic e Gastos Públicos com Juros:  A taxa básica que cada vez menos baliza", trata a questão do descolamento entre a taxa Selic e os gastos com juros da dívida pública do setor público brasileiro. 
Parte-se da constatação de que até 2010 a Selic caiu em ritmo muito mais rápido do que diminuiu o gasto com juros – em especial, no âmbito da política de combate à crise financeira global. No sentido inverso, assim que a taxa voltou a subir para combater pressões inflacionárias, os correspondentes gastos em 2011 cresceram mais rápido.

terça-feira, dezembro 06, 2011

A Miséria do “Novo Desenvolvimentismo” por José Luís Fiori


O cientista político José Luís Fiori escreveu artigo provocativo a respeito do “Novo Desenvolvimentismo“, marca lançada pela FGV-SP. Como o lançamento da Rede dos Desenvolvimentistas, espera-se que o debate entre desenvolvimentistas se volte contra as ideias conservadoras. Reproduzo o artigo abaixo
“O capitalismo só triunfa quando se identifica com o estado, quando é o estado”
              Fernand Braudel, “O Tempo do Mundo”, Editora Martins Fontes, SP, p: 34
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O “debate desenvolvimentista” latino-americano não teria nenhuma especificidade se tivesse se reduzido a uma discussão macroeconômica entre “ortodoxos”, neoclássicos ou liberais, e “heterodoxos”, keynesianos ou estruturalistas. Na verdade, ele não teria existido se não fosse por causa do Estado, e da discussão sobre a eficácia ou não da intervenção estatal, para acelerar o crescimento econômico, por cima das “leis do mercado”.

Entrevista da Professora Conceição Tavares




Em entrevista exclusiva à Carta Maior, realizada pela excelente jornalista, Maria Inês Nassif, a professora Maria da Conceição Tavares defende que o dinheiro do petróleo das reservas do pré-sal seja investido num fundo destinado à Educação e Saúde, mas desde que o governo federal seja o gestor dessas políticas. Ela propõe ainda uma revisão do generoso municipalismo instituído pela Constituição de 1988. “Veja o que os municípios que ganharam royalties fizeram com o dinheiro. Nada”, afirma.
A economista Maria da Conceição Tavares tem 81 anos e adquiriu o direito de falar tudo o que pensa. E está longe de fazer isso com moderação. Na última segunda, em seminário promovido pelas fundações Perseu Abramo, do PT, Leonel Brizola, do PDT, Maurício Grabois, do PCdoB e João Mangabeira, do PSB, ela estava na primeira mesa, debatendo a crise mundial e os caminhos para o Brasil nesse momento histórico conturbado, que atingiu em cheio os países mais ricos. Com um pequeno intervalo para o almoço, foi para a primeira fila da plateia, com direito a intervir quando achava necessário nas exposições dos que a sucederam – muitos deles, seus ex-alunos na Unicamp, como Ricardo Carneiro e Marcio Pochmann.